domingo, 25 de julho de 2010

Dom Casmurrro

Como eu disse que faria outros tipos de viagens por aqui, redescobri em meus escritos da Especialização em Literatura Brasileira que fiz essa pequena resenha que gostaria de partilhar com você, caro leitor. Machado de Assis é ainda um autor muito vivo em nossa memória e, em meio a tantos outros artistas brasileiros, nos dá orgulho de dizer: é brasileiro, não sei se a recíproca seria verdadeira... Mas vamos ao que interessa!
Dom Casmurro é, talvez, o mais popular romance brasileiro. Publicado em 1900, o livro é o sétimo romance de Machado de Assis, o mais aclamado escritor brasileiro de todos os tempos. A complexidade da narrativa machadiana, que se insere cronologicamente no Realismo, mas que o ultrapassa, pela qualidade da prosa e pelo nível de problematização da vida que alcança, se consubstancia plenamente em Dom Casmurro.

Narrado em primeira pessoa, o romance conta, em flashback, a história da vida de Bento Santiago (o narrador, agora, amargurado, transformado em Dom Casmurro) e seu grande amor, Capitu. Casados há algum tempo, o narrador começa a suspeitar que a mulher o traiu com seu melhor amigo e, convencido disso, acaba por separar-se dela, a quem "exila", com o filho, na Suíça. Na verdade, o tema do romance não é esta suposta traição, mas a própria suspeita do narrador, sua vulnerabilidade ao ciúme, sua incapacidade de lidar com a felicidade conjugal, que atingira depois de vencido o obstáculo do seminário, para onde o mandara a mãe, que o queria padre. A trama se situa no Rio de Janeiro, na segunda metade do século XIX.

A primeira recepção de Dom Casmurro parece ter acreditado piamente no narrador, afirmando que o romance se assemelhava a O Primo Basílio e a Madame Bovary, isto é, eram romances de adultério. A partir da década de 60, com o estudo pioneiro da americana Helen Caldwell, passou-se a considerar a possibilidade de que a traição fosse apenas fruto da imaginação doentia de Bento Santiago. Mais tarde, o ensaio de Silviano Santiago (Retórica da Verossimilhança) focaliza a figura do narrador em si, propondo que ele, sim, é a grande personagem problemática do romance.

A complexidade da seqüência narrativa, com um vaivém no tempo (às vezes no mesmo parágrafo se tem dois momentos diferentes da história), e, sobretudo, as interferências do narrador fazem com que o romance se revele inesgotável. Isso acontece, por exemplo, quando o narrador diz ao leitor que ele deve preencher as lacunas de sentido que encontrar no texto – o que atribui a ele, leitor, um papel significativo na obra, cujo sentido maior só se completaria com a sua interpretação.

Certamente, Dom Casmurro não é um romance "realista", no sentido estreito que este adjetivo pode ter quando aplicado como um rótulo a obras literárias. É antes, um romance "impressionista", já que se desenvolve no terreno dos meios tons, da dúvida, da incerteza, das insinuações. Mas é, antes de mais nada, um grande romance, em si mesmo, para além de classificações redutoras.

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